Resenha - Experimenter
"Experimenter" é um filme sobre a vida e obra do famoso e premiado psicólogo experimental americano Stanley Milgram. E a sua história é muito interessante, principalmente para quem curte o tema ou não conhecia nem tinha lido sobre seu trabalho.
Com duração enxuta, o filme é leve e acaba desenvolvendo pouco a família de Stanley e diversas questões de sua vida, tratando tudo de uma forma simples. As conclusões também são muito bem explicadinha em diálogos, inclusive conosco, como mencionarei mais a frente. O que gera um filme digerido demais, pois ele poderia ser menos americano.
Ele era judeu e conseguiu, nos anos 60, elaborar uma teoria conclusiva sobre comportamento humano no que tange a obediência. A analogia com os soldados e partidários nazistas acabou sendo evidente, o que ajuda a entender como tantos cumpriram ordens tão cruéis contra seus semelhantes. A autoridade é algo muito forte nos homens, o que dá a entender que as pessoas são muito ligadas em cumprir suas tarefas, em obedecer, em seguir ordens, mesmo que isso cause o mal dos outros. E quando a responsabilidade parece passar para o superior hierárquico, a pessoa acaba fazendo coisas que não seguem suas convicções pessoais. O que surpreendeeu muitos dos avaliados!
Inspirado nas câmeras escondidas (estilo "pegadinhas"), Stanley, usou um experimento envolvendo choques de uma pessoa em outra, quando um não respondesse as perguntas de forma correta, pregando uma peça em um deles (pois ficavam separados e o choque não era real) - o outro era um cúmplice - mas testando e avaliando suas atitudes. E as ações não eram por ordens diretas, mas sugestões, solicitações, de acordo com as regras pré-combinadas. Os resultados concediam-lhe muitas conclusões.
Vários exemplos que Stanley cita e experimentos que realiza reforçam sua teoria e mostram diversas vertentes do nosso comportamento, gerando muita controvérsia na sociedade da época. A polêmica é que muitos não aprovavam seus métodos (ou tinham inveja de seus avanços e descobertas), e isso gerava rivais. Mas eram diversos experimentos que já ouvimos falar, vimos e que influenciaram o meio da psicologia. Como ao olhar para cima, os outros olham também. Ao forçar uma opinião, mesmo que errada, os outros tendem a mudar e a seguir essa maioria. São muitas situações interessantes.
Não deixo de pensar também na mensagem por trás de tudo isso. Além do Experimento de Milgram e a questão dos crimes de guerra, de ser cúmplice ou não, há mais por trás disso, que já é algo intenso e bom de se discutir: obediência x moral. Entendo que nem tudo precisa ser visto do lado da crueldade da guerra ou dos desmandos de líderes do mal. Em diversas profissões, e nesse caso especial, nos filmes, os próprios atores e o staff dos dirigentes seguem situação semelhante. Eles seguem a tendência definida no início da produção, pelo diretor ou produtores, e é raro existirem aqueles que pensam diferente ou propõem outras alternativas. O ser humano pensa, e consegue raciocinar, mas nem sempre age, muitas vezes tolido pelo senso de obediência e dever a cumprir quando está submetido (ou julga) a uma autoridade.
Quantas vezes o diretor Michael Almereyda não deve ter se visto em uma situação que remeta a este dilema?
O mais legal no filme é que Stanley conclui, diretamente para nós, espectadores (quebrando diversas vezes a "quarta parede"), que sempre temos uma escolha. O que concordo plenamente.
Ainda que não seja um filme primoroso, é indispensável aos amantes da psicologia e a qualquer um com interesse no tema.